Recife, 14 de abril de 2008.
Ygor, filho amado:
Todos nós, parentes, amigos, que tanto te amamos e admiramos, estamos felicíssimos com mais esta conquista em tua vida profissional.
A tristeza de sabermos que a distância, necessariamente, irá reduzir os nossos contatos pessoais, mas não será capaz de tisnar a emoção da vitória decorrente de sua aprovação no concurso para o cargo de Juiz de Direito nas Alagoas, terra de tua mãe e de tua avó materna.
Se este sentimento é uníssono aqui na terra, imagine como está sendo nos planos superiores, onde os teus avós, materno e paterno, se encontram, com certeza, mercê das vidas terrenas retas e sem máculas que viveram, verdadeiros exemplos de conduta para as novas gerações.
Durval com o ‘‘meu Guga’’; Armando orgulhoso de ter dado início a uma verdadeira “dinastia de julgadores”.
É exatamente sobre este último aspecto que venho te dirigir algumas palavras, tal como teu avô já fizera comigo e eu mesmo com teu irmão ‘‘Cauzinho’’.
Enquanto seres humanos, nenhum de nós juizes somos melhores que qualquer outro semelhante. Não somos nós os importantes; nossos cargos é que sim.
Humildade, portanto, é a primeira e principal ‘palavra-chave’ para um bom exercício da magistratura.
Para aqueles que acreditam em um Deus; em Jesus Cristo como o salvador e o ser máximo enviado a Terra para ensinar sua palavra; na vida eterna, se renovando a cada encarnação; a Bíblia Sagrada está cheia de ensinamentos neste sentido, tais como: a)‘‘não faças aos outros aquilo que não queres que façam contigo.’’; b) “A quem mais for dado, mais será cobrado”; c) e, principalmente, “não julgueis para não serdes julgados, porque o juízo é de Deus”.
Portanto, a tarefa de julgar é de natureza divina, sendo, pois, todos nós juízes, meros executores da distribuição desta Justiça.
Podemos errar, falhar, sopesar indevidamente, em cada questão que nos é posta em julgamento, humano que somos. Deus, estou convicto, saberá entender e perdoar a incompetência do “auxiliar”. Jamais nos é dado fazer isto deliberadamente, por arrogância, interesses ou paixões.
Mais do que as palavras, as atitudes e os gestos indicam a permanente orientação para este norte.
Foi assim que agia o teu avô Armando, de carreira judicante sofrida, porque jamais se curvou aos poderosos. Assim tenho tentado seguir seus passos, aceitando resignado às sucessivas promoções por antiguidade até chegar ao Tribunal Pernambucano. Teu irmão “Cauzinho”, Juiz há quase 03 (três) anos, segue na mesma toada.
Se curvar diante de outro homem só para agradecer, nunca para pedir. O preço pode ser caro. Como dizia antiga propaganda, ”a vítima pode ser você”.
Recentemente um Juiz do trabalho aposentado, Dr. Roberto, perguntou a teu irmão o que eu e tua mãe havíamos feito para conseguir que 2 (dois) filhos fossem aprovados como juizes. Em seu permanente tom brincalhão, com verve e fina ironia, respondeu: “bem! com 5(cinco)anos de idade ele nos presenteou com um Código Civil; Aos 7(sete) com um Código de Processo Civil; Depois com um exemplar da “Luta pelo Direito”, tratados de Teoria Geral do Direito e assim por diante”.
Bastaria ter dito: Com o exemplo de vida deles. Seriedade, tenacidade na busca de seus objetivos, bom humor, e fé em Deus. Ou, como falou Guevara, “hay que endurecer, pero sin perder la ternura”.
Não preciso mais te dar conselhos. Eis um homem precocemente amadurecido! Ainda assim, se desejares, basta ler as cartas que teu avô me presenteou quando ingressei na magistratura, tantas vezes reproduzida em revistas jurídicas deste país, ou a missiva que dirigi ao teu irmão às vésperas de se tornar um Juiz.
Quem sabe continuaremos dignos desta confiança de Deus para que nossos descendentes também venham a ser magistrados.
Para tal hipótese, que não acho remota, não resisto à tentação de plagiar e fazer uma adaptação à linda letra da música do amigo Roberto Barradas:
“Filho meu,
Tu vais sentir tudo o que sinto,
Quando poderes em teus braços”
Abraçar um juiz que é
Filho teu.
Sejas feliz em tua nova profissão!
Um beijo no coração,
Do teu pai e amigo,
Luiz Carlos de Barros Figueirêdo.