CRIANÇAS BRASILEIRAS ADOTADAS POR ESTRANGEIROS

07-04-2009 Postado em Artigos por Luiz Carlos Figueirêdo

– Qual o seu destino ? –

Tenho observado que mesmo entre ardorosos defensores da Adoção Internacional sempre resta uma microscópica dúvida sobre o destino desses “brasileirinhos” adotados por estrangeiros, fruto, provavelmente, do destaque paranóico dado pela mídia as denúncias irresponsáveis sobre tráfico de órgãos, transplantes etc.

Nesta 1ª quinzena de outubro estive na Holanda, a convite da Autoridade Central de Adoções do Ministério da Justiça daquele País, onde, a par de importantes encontros com os senhores Jan A. Th. Vroomans e Willem Augustijn do Ministério e com o Presidente da Conferência de Haia para Adoção Internacional, Hans Van Loon, tive a oportunidade de presenciar espetáculo que jamais sairá da minha memória.

Em 05/10/96, no Parque Deinhell, Den Hag, comemorando os 25 anos de existência da NICWO, única agência de adoção credenciada pelo Governo Holandês que atua no Brasil e diversos outros países, se reuniram centenas e centenas de pais e filhos adotivos, vindos de todas as regiões da Holanda para participar do Evento.

Crianças e adolescentes da Colômbia, Indonésia, Índia, Brasil, Sri-Lanka, China, etc., com feições bem marcadas e biotipo diferenciado dos seus “pais” se confraternizavam com outros menores originários da própria Holanda, em uma festa que só pode está de acordo como o plano de Deus de amor e harmonia entre os povos, sem os limites de fronteiras impostos pelos homens..

Qualquer observador destacaria o enorme carinho dos pais para com os seus filhos e a patente manifestação de preservar neles o sentimento de respeito e amor aos países onde nasceram, o conhecimento de suas raízes e manifestações culturais ( é esta boa vontade que permite “perdoar” os adolescentes de origem brasileira trajados de índios e dançando no palco ao som de, pasmem, “Asa Branca”).

São dez mil crianças adotadas por holandeses nestes vinte e cinco anos. A maioria da Colômbia, sendo o Brasil o 4º lugar. Hoje, dizem os adotantes nas listas de espera que preferem crianças brasileiras, por serem mais expansivas, gostarem de dançar e de esportes.

Tive a oportunidade de conversar com diversos adolescentes “pernambucanos”, que foram adotados muito antes deste Magistrado ser juiz em Recife, que “queriam conhecer o juiz da sua terra”. São diferentes a percepção de cada um deles. Alguns querem vir ao Brasil e saber informação sobre parentes biológicos. A maioria não inclui tal tema no seu rol de expectativas. Em todos os casos, mesmo quando irmãos na mesma família, é absoluto o respeito dos pais à individualidade de cada filho.

É sabido que vários Juízes e Promotores que atuam na área da Infância quando em viagem pela Europa procuram localizar as crianças adotadas em suas comarcas, como meio de “ter certeza absoluta” de que a concessão da adoção foi benéfica. No meu caso, e dos Juízes paulistas Vasili e Daniel Peçanha, foi possível transcender estes limites para com os próprios olhos ver adotados de suas comarcas, de todo o Brasil e de vários países do mundo. Só um caso de transplante, renal, mas tendo a criança adotada (por sinal brasileiro, do Amazonas) como beneficiário e não como doador.

Os elementos disponíveis são indicativos de que o mesmo quadro é observável na França, Itália, Suécia, Suíça, Alemanha, Noruega, Bélgica, Espanha, e tantos outros países dos quais são originários os adotantes de crianças brasileiras.

O ideal sempre será manter a criança em sua família natural (um Programa de renda mínima com bolsa escolar pode ser fator relevante para que os pais biológicos não abandonem seus filhos). Se, não for possível ficar com os genitores biológicos, deve se buscar colocá-la em família substituta brasileira (os cadastros dos Juizados estão sempre carentes de candidatos nacionais, sendo necessário que a mídia em geral divulgue o tema e campanhas institucionais de incentivo à adoção por brasileiros). Entretanto, caso também malogre esta hipótese, não há dúvidas que o caminho da adoção internacional é uma boa alternativa, pois atualmente é ato sério, feito por pessoas sérias e destinado também a adotantes sérios, que somente beneficia as crianças abandonadas, para as quais não se encontrou solução adequada no Brasil, evitando que permaneçam em abrigos ou que ganhem as ruas, a marginalidade ou sejam exterminadas.

Publicado no Jornal do Commércio – 1996

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